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Artigos em Série #1 E3 - Telecitologia: O que é, Como funciona e Quais os benefícios?

Por Jeferson Martins Gomes, Biomédico, Técnico em Informática e idealizador do blog Eu Sou Bionerdico

EPISODIO 3: Telecitologia e suas Aplicações

Teleconsultoria

Consulta registrada e realizada entre trabalhadores, profissionais e gestores da área da saúde, por meio de instrumentos de telecomunicação bidirecionais, com fim de esclarecer dúvidas sobre procedimentos clínicos, ações de saúde e questão relativas ao processo de trabalho. Existem dois tipos de Teleconsultoria: Síncrona, realizada em tempo real, através de chats, web ou videoconferência; Assíncrona, através de mensagens off-line, onde o especialista tem um prazo médio de 48 horas para responder. (PIROPO, 2015)

Tele-educação

Com as imagens digitais obtidas pode-se montar uma biblioteca virtual web permanente, permitindo que o usuário possa avaliar o conteúdo a qualquer hora, de qualquer lugar, sem microscópio, sem lâmina de vidro. Também é possível oferecer programas educacionais, como atlas de citologia, palestras seminários e oficinas, assim como já acontece com a Academia Internacional de Citologia (IAC) e Sociedade Brasileira de Citologia Clinica (SBCC). Esse arquivo de lâminas virtuais pode ser usado para consulta de alunos e especialistas, e ser utilizado de forma eficiente para a educação continuada à distância através por teleconferências, acompanhadas por palestras para profissionais de saúde. (Khalbuss, 2011; THRALL, 2011). No Brasil, o MS realiza a educação à distância (EAD) através da tele-educação baseado na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A BSV é constituída com base nas respostas da teleconsultoria assíncrona. O MS define tele-educação como sendo uma forma de ensino e aprendizagem com recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação. (PIROPO, 2015)

Segunda Opinião Formativa (SOF)

A MS define SOF como sendo uma resposta sistematizada construída com base em revisão bibliográfica, nas melhores evidências científicas e clínicas e no papel ordenador da Atenção Básica a Saúde, à perguntas originados das teleconsultorias e selecionadas a partir de critérios de relevância e pertinência em relação as diretrizes do SUS. As respostas da SOF ficam disponibilizadas na BSV. (PIROPO, 2015)

Controle de Qualidade

Os laboratórios são obrigados a realizar programas de controle de qualidade, tais como revisão dos casos, em um esforço para identificar erros de diagnósticos significantes e tomar medidas corretivas. Para citologia cervico-vaginal, recomenda-se a revisão de 10% dos casos. Estudos revelam que a taxa de discrepância entre diagnósticos, após a revisão, é de 1% a 5%, portanto é de fundamental importância a efetivação de um programa de controle de qualidade, interno e externo, com o objetivo de melhorar a qualidade de serviço diagnóstico. Entretanto, uma grande dificuldade esta no deslocamento e gerenciamento das lâminas, o que acarreta custo, principalmente entre instalações, em especial, quando se quer avaliar o resultado da revisão antes a data de entrega do resultado, para detectar possíveis erros e aplicar as melhorias cabíveis, tornando isso um benefício para o paciente. Nesse cenário, o uso de imagens digitais atenuaria a questão da logística, além de permitir a elaboração de um programa de controle de qualidade eficiente, permitindo ocultar a identidade do citopatologista e, se desejado, do diagnóstico original, uma fez que o conhecimento do diagnóstico pode afetar a sensibilidade da revisão e mascarar as informações do controle de qualidade. (KHALBUSS, 2011; THRALL, 2011)

Avaliação de proficiência

Em 1988 o governo federal norte-americano implantou um programa nacional de avaliação de proficiência para a citologia cervico-vaginal, denominado Clinical laboratory Improvement Amendments (CLIA ’88). Ele consiste em submeter o citopatologista a uma avaliação usando lâminas de vidro ou métodos computacionais. A implementação do CLIA’88 a nível nacional exigiu a disponibilidade de um grande número de lâminas padronizadas, uma logística complexa para lidar com a administração de avaliações para milhares de laboratórios dispersos geograficamente e gestão dos dados coletados de milhões de participantes. (KHALBUSS, 2011)

O Colégio Americano de Patologia (CAP) desenvolveu um programa de comparação interlaboratorial de citologia cervico-vaginal em 2003. Lâminas de referência foram cuidadosamente selecionadas e validadas por 3 árbitros membros do Comité de Recursos do CAP, e por 20 participantes antes de serem usadas no programa. Os participantes utilizam em uma folha codificada com diagnósticos graduados que são equivalentes a terminologia usada nos laudos. O CAP ofereceu recentemente um material educativo on-line utilizando lâminas virtuais tanto em citologia ginecológica (The CAP PT: Gynecological Cytology PT Program) como em não ginecológica (The NGC OnLine Activity). (KHALBUSS, 2011)

Telediagnóstico

Segundo a MS, telediagnóstico é a oferta autônoma que utiliza as tecnologias de informação e comunicação de modo a embasar o diagnóstico através de distâncias geográficas e temporais. Como o telediagnóstico é possível a redução do custo em saúde uma vez que o diagnóstico e tratamento oportuno podem evitar o longo deslocamento de pacientes e profissionais. Permite que o exame seja coletado no ambiente de atenção primária à saúde e tenha seu laudo realizado em centros de referência sem a necessidade da presença de um especialista no momento da execução do exame. (PIROPO, 2015).

Telecitologia: Como funciona?

A Telecitologia pode ser realizada de 3 formas: estática (campo fixo), dinâmica (tempo real) e sistemas híbridos. Os sistemas da Telecitologia incluem microscopia digital (câmeras acopladas ao microscópio), sistemas robóticos (com microscópio controlado remotamente) e lâminas digitalizadas (virtuais). Estes dois últimos sistemas, embora caros e exigirem internet de boa qualidade, oferecem uma melhor qualidade de imagem digital, além de fornecer acesso a todos aos campos da lâmina. A citologia ginecologia e não ginecológica são passíveis de serem utilizadas na telecitologia através de consulta imediata e segunda opinião. As recentes melhorias em diagnósticos estão ligadas ao avanço tecnológico, treinamento e familiaridade do usuário com tais sistemas. (KHALBUSS, 2011)


A interpretação remota de imagens digitais tem o potencial de fornecer rastreio eficaz e triagem clínica em indivíduos de comunidades situadas em regiões carentes e de difícil acesso. Este serviço possibilitaria benefícios como a aumento na qualidade da assistência prestada, permitindo acesso à serviços especializados e aumentando a resolutividade da atenção primária à saúde, além de permitir a inclusão digital daquela região. Como já foi discutido, há uma variedade de tecnologias disponíveis para aplicações em telecitologia que vão desde simples transmissão de imagens digitais estáticas através da internet, passando por transmissões em tempo real (streaming), até chegar na digitalização e transmissão usando a metodologia WSI. O uso de imagens digitais em telecitologia pode ocorrer em um escritório ou campus, sendo que a consulta pode ocorrer em qualquer lugar do mundo onde se tenha uma internet de boa qualidade. Apesar o uso iminente, a telecitologia enfrenta algumas dificuldades para o uso em aplicações clínicas, entre elas, implementação de tecnologia de informação, restrição de acesso a informações e laudos, aspectos éticos referentes às informações do paciente, barreiras tecnológicas. (KHALBUSS, 2011; MARCOLINO, 2014)

Acompanhe todos os episódios de "Artigos em Séries" 1ª Edição:

Episódio 1 

Episódio 2 

Episódio 4

REFERÊNCIAS

BARROS, A. L. de S. et al. Citopatologia Ginecológica. Caderno de referência 1, Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: CEPESC, 2012.

INCA - Instituto Nacional do Câncer. Colo do Útero. Disponível em: <http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/colo_utero/definicao >. Acesso em: 25 jan. 2018a.

INCA - Instituto Nacional do Câncer. Controle do Câncer de Colo do Útero.  Disponível em: 
<http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_nacional_controle_cancer_colo_utero/conceito_magnitude >. Acesso em: 25 jan. 2018b.

INCA - Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância – Conprev. Falando sobre câncer do colo do útero. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde/INCA, 2002.

KHALBUSS, W. E.; Pantanowitz, L.; e Parwani, A. V. Digital Imaging in Cytopathogy. 2011. Pathology Research International. V. 2, N. 22. P. 73-74. 2011.

MIRANDA, G. H. B. Método para Processamento e Análise Computacional de Imagens Histopatológicas Visando Apoiar o Diagnóstico de Câncer de Colo do Útero. 2011. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

NOVAES, M. A. et al. A Telessaúde na Estratégia Saúde da Família em Pernambuco: resultados e desafios. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA EM SAÚDE. Recife. 2010. Disponível em: < http://www.cbtms.org.br/congresso/trabalhos/052.pdf >. Acesso em: 25 jan. 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). National eHealth strategy toolkit. 2012. Disponível em: < http://www.itu.int/dms_pub/itu-d/opb/str/D-STR-E_HEALTH.05-2012-PDF-E.pdf >. Acesso em: 25 jan. 2018.

PIROPO, T. G. N.; e Amaral, Helena. O. S. Telessaúde, contexto e implicações no cenário baiano. Saúde Debate, Rio de Janeiro, V. 39. N. 104, P. 279-287, Jan-Mar. 2015.

PONTES, V. B. Estudo dos genótipos do HPV e fatores associados ao diagnostico do câncer do colo do útero em estádio inicial em mulheres atendidas na unidade de saúde de referencia oncológica do Estado do Pará. 2016. 128f. Tese de Doutorado – Universidade Federal do Pará, Rio de Janeiro, 2016.

PORTAL BRASIL. Incidência do câncer de colo do útero cai em dez anos: Atlas de Mortalidade. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/saude/2014/11/incidencia-do-cancer-de-colo-do-utero-cai-em-dez-anos >. Acesso em: 03 jul. 2015.

THRALL, M.; Pantanowitz, L.; e Khalbuss, W. Telecytology: Clinical Applications, current challenges, and future benefits. Journal of Pathology Informatics, V. 2, N. 51, 2011.

MARCOLINO, M. S. et al. Teleconsultorias no apoio a atenção primária à saúde em municípios remotos no estado de Minas Gerais, Brasil. Rev Panam Salud Publica. 2014; 35(5/6): 345-52.

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SPINARDI, A. C. P. et al. Telefonoaudiologia: ciência e tecnologia em saúde. Pró-Fono Revista de Atualização Científica,V. 21, N. 3, P. 249 – 254, Set. 2009.

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BARBOSA, P. Profissionais da Sesma participam de qualificação do Telessaúde
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PAES, R. Telessaúde agiliza atendimento no SUS. Disponível em <http://www.uepa.pa.gov.br/pt-br/noticias/telessa%C3%BAde-agiliza-atendimento-no-sus>. Acesso: em 28 de nov. 2016.

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