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Artigos em Série #1 E2 - Telecitologia: O que é, Como funciona e Quais os benefícios?

Por Jeferson Martins Gomes, Biomédico, Técnico em Informática e idealizador do blog Eu Sou Bionerdico

EPISÓDIO 2: PRINCÍPIOS DA TELECITOLOGIA

As imagens digitais podem ser obtidas das seguintes formas: imagens microscópicas estáticas (imagens de campo fixo), imagens de microscopia robótica em tempo real, e através da metodologia Whole Slide Imaging (WSI). Ainda se discuti a padronização dos processos de aquisição, armazenamento e exibição de imagens digitais, semelhante ao que ocorre com a radiologia (KHALBUSS; THRALL, 2011).

O uso de imagem de campo fixo se torna uma vantagem pela facilidade de implementação. O principal requisito é a utilização de um microscópio acoplado a uma câmera. A imagem estática requer uma pequena quantidade de memória, uma vez que a mesma pode ser transmitida e visualizada pela internet. Entretanto, a imagem obtida tem uma pequena fração da informação contida na lâmina de vidro como um todo. Sendo assim, o diagnóstico correto dependendo muito do profissional que é destacado para realizar a captura das imagens, já que uma imagem não representativa pode facilmente levar a um erro de diagnóstico. Estudos anteriores mostram que há boa concordância entre os diagnósticos feitos com uso imagem de campo fixo apresentadas na tela do computador quando comparados com aqueles feitos após a revisão da lâmina de vidro correspondente. Porém, ficou evidenciado a incapacidade de descrever de forma confiável todo o material dos casos apenas com imagens representativas. Outro problema do uso de imagens de campo fixo é a utilização de apenas um plano focal, o que dificulta classificar com precisão células pequenas, incluído HSIL (lesões de alto grau) e carcinomas. Evidenciou-se também que nos casos mais difíceis houve uma maior discrepância entre o diagnóstico inicial e o diagnóstico após a revisão da lâmina de vidro (THRALL, 2011).

O uso de sistema robótico remotamente controlado também é citado. Os sistemas de transmissão em tempo real podem ser controlados localmente, ou a distância pelo telecitopatologista. Tais sistemas permitem uma análise imparcial da lâmina, pois o telecitopatologista pode controlar a revisão, orientando qual o campo deve-se ampliar ou focar. No entanto, pode ocorrer complicações ao manusear o sistema por dificuldade de operação ou internet de má qualidade, tornando o processo lento, pois baixas taxas de atualização podem dificultar a transmissão e sobrecarregar a conexão (THRALL, 2011).



A metodologia Whole Slide Imaging (WSI) ou “microscópio virtual”, consiste na digitalização das lâminas de vidro de citopatologia para serem visualizadas em uma estação de trabalho através de um software. A imagem digital obtida (lâmina digital) mimetiza o microscópio de luz e permite o usuário realizar as mesmas funções (visualizar, mover de um campo para outro, aumentar ou diminuir a aproximação da imagem) como se estivesse em um microscópio real, porém fazendo uso de um monitor de computador (Khalbuss, 2011). A metodologia WSI, requer uma alta capacidade de captura e armazenamento com suporte de visualização da imagem. São vantagens da tecnologia WSI utilizada na citopatologia em relação a microscopia tradicional: as imagens podem ser acessadas de qualquer lugar; armazenamento permanente, sem necessidade de uso de microscópio; maior qualidade da imagem obtida, sendo a resolução semelhante a visualizada na rotina com microscópio óptico; possibilidade de duplicação ou substituição. Apesar disso a tecnologia WSI enfrenta algumas dificuldades da implementação: alto custo de instalação, duração do tempo para digitalização, requer grande capacidade de armazenamento, requer qualidade da transmissão de dados (internet), implicações legais, relutância dos profissionais e falta de padronização (THRALL, 2011).

Telessaúde e Telecitologia

Apesar de recente, pode-se perceber um impacto significativo na prática clínica, como na prestação serviços de diagnóstico precoce com o uso de imagens digitais, através da telecitologia, uso no controle de qualidade, educação em citologia, avaliação de competência dos especialistas recém-formados (THRALL, 2011).

A telecitologia consiste na conversão da informação visual disponível no microscópio óptico (lâmina de vidro), para imagem digital (campo fixo, tempo real ou WSI), podendo ser transmitida remotamente (THRALL, 2011).

Vários relatos na literatura reportam sobre a aplicação da telecitologia em atendimento de pacientes através de consulta de imagem estática (campo fixo) ou vídeo-conferência (tempo real) com avaliação remota imediata (THRALL, 2011).

A OMS reconhece que o crescimento da telemedicina tem transformado rapidamente a prestação de serviços e sistemas de saúde em todo mundo. A telemedicina é uma sub-área da telemática, disciplina que estuda a manipulação e a utilização da informação pelo uso combinado de computador, seus acessórios e meios de comunicação. Considerando que a telemática envolve qualquer meio de comunicação à distância, a telemedicina consiste na utilização das tecnologias de informação para melhorar resultados de saúde pelo incremento de acesso aos cuidados e informações médicas. Utilizado no início de seu surgimento, o termo telemedicina vem sendo substituído por Telessaúde e /ou eSaude (eHealth). A OMS define eSaude (eHealth) como a utilização, pela área da saúde, de dados digitais que são transmitidos, armazenados e recuperados eletronicamente e que podem ser usados no apoio ao serviço de assistência médica à distância ou em seu próprio local. Já Telessaúde é definida como uso das tecnologias de informação e comunicação para transferir informações de dados e serviços clínicos, administrativos e educacionais em saúde (PIROPO, 2015).



O Brasil acompanha a tendência mundial no desenvolvimento da Telessaúde pela implementação de projetos de larga escala aplicados ao SUS, como o Projeto Piloto Nacional de Telessaúde Aplicada à Atenção Básica, em 2007, Projeto Telessaúde Brasil Redes, em 2010, do MS (www.telessaudebrasil.org.br), e o Projeto Rede Universitária de Telemedicina, de iniciativa do Ministério de Ciências, Tecnologia e Inovação (www.rute.rnp.br). No Projeto Piloto Nacional de Telessaúde Aplicada à Atenção Básica foram criados nove núcleos localizados nas universidades estaduais do Rio de Janeiro e Amazonas e nas federais do Ceará, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Cada núcleo foi responsável pela coordenação, implantação, instalação e operacionalização de 100 pontos em Unidades de Saúde da Família (USF), totalizando 900. O Projeto Telessaúde Brasil Redes o objetivo era qualificar, ampliar a resolubilidade e fortalecer as equipes de saúde da família (ESF), com base na oferta da denominada “segunda opinião formativa” e outras ações educacionais dirigidas aos diversos profissionais das equipes. O Projeto Rede Universitária de Telemedicina visa a apoiar o aprimoramento de projetos em telemedicina já existentes e incentiva o surgimento de futuros trabalhos interinstitucionais (MARCOLINO, 2014; OLIVEIRA, 2015).

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Episódio 3

Episódio 4

REFERÊNCIAS

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<http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_nacional_controle_cancer_colo_utero/conceito_magnitude >. Acesso em: 25 jan. 2018b.

INCA - Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância – Conprev. Falando sobre câncer do colo do útero. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde/INCA, 2002.

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NOVAES, M. A. et al. A Telessaúde na Estratégia Saúde da Família em Pernambuco: resultados e desafios. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA EM SAÚDE. Recife. 2010. Disponível em: < http://www.cbtms.org.br/congresso/trabalhos/052.pdf >. Acesso em: 25 jan. 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). National eHealth strategy toolkit. 2012. Disponível em: < http://www.itu.int/dms_pub/itu-d/opb/str/D-STR-E_HEALTH.05-2012-PDF-E.pdf >. Acesso em: 25 jan. 2018.

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