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Artigos em Série #1 E1 - Telecitologia: O que é, Como funciona e Quais os benefícios?

Por Jeferson Martins Gomes, Biomédico, Técnico em Informática e idealizador do blog Eu Sou Bionerdico

EPISÓDIO 1: CONTEXTO

O câncer do colo do útero, também chamado cervical, é o terceiro tipo de tumor mais frequente entre a população feminina, atrás do câncer de mama e do colorretal (BRASIL, 2018a). No Brasil, segundo o Ministério da Saúde (MS), em 2013, 5.430 mulheres vieram a óbito devido à doença. Até o final de 2016 eram estimados 16.340 novos casos. Quando diagnosticado precocemente o potencial de cura e prevenção é maior. “Dentre todos os tipos de câncer é o que apresenta um dos mais altos potenciais de cura e prevenção. ” (BRASIL, 2002). O diagnóstico é realizado através da avaliação microscópica de lâmina de vidro com amostra de esfregaço cervical, corada pelo exame citopatológico convencional (Papanicolaou), método de rastreamento sensível, seguro e de baixo custo, como o intuito de analisar as características morfológicas das células (BARROS, 2012; BRASIL, 2002; BRASIL, 2018b). Apesar de ser, reconhecidamente, o melhor método para o diagnóstico precoce de lesões percussoras de câncer cervical, existem algumas limitações, como: tempo excessivamente longo na interpretação, processo de natureza subjetiva e de caráter interpretativo pessoal, impossibilidade de assegurar a invasão ou extensão da invasão no caso de lesão maligna, número elevado de casos falso-negativos (MIRANDA, 2011).



A taxa de falso-negativo da citopatologia (isto é, o exame que teve resultado negativo, mas que não é verdadeiramente negativo) pode variar até 30% na dependência da subjetividade (intra e inter observadores) e por vários fatores, desde a coleta do material, fixação e coloração da lâmina, leitura do esfregaço e, finalmente, a interpretação do exame. A sensibilidade da citopatologia varia entre os diferentes trabalhos, mas pode ser considerada em torno de 70%. Quando associada à colposcopia, ela pode chegar até 80% de sensibilidade (BRASIL, 2002). 



Atualmente, o avanço tecnológico possibilita o desenvolvimento de sistemas e equipamentos que podem auxiliar no diagnóstico, diminuindo a subjetividade e aumentando a precisão dos processos de avaliação e classificação realizados pelos citopatologistas. O uso de tecnologias de aquisição e análise de imagens, aliada ao processamento computacional de grandes quantidades de dados, representa possibilidade potencial de desenvolvimento de tecnologias computacionais que auxiliem o especialista no processo de tomada de decisão (MIRANDA, 2011). Nesse contexto, podemos citar o uso de imagens digitais que podem ser utilizadas na citopatologia para tele-diagnóstico, tele-consultoria e tele-educação, de forma remota, com uso das tecnologias de informação e comunicação (KHALBUSS, 2011).

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), as tecnologias de informação e comunicação corroboram com a prestação de cuidados na saúde pública, pesquisas e atividades relacionadas à saúde para o benefício, principalmente, de países em desenvolvimento. Permite, ainda, a instituição de ferramentas estratégicas de apoio ao desenvolvimento das ações em saúde no que se refere ao planejamento, assistência, pesquisa e educação em saúde (PIROPO, 2015).

Em uma análise regional o câncer do colo do útero se destaca como o primeiro mais incidente na região Norte do Brasil, com 23,97 casos por 100.000 mulheres. Nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, ele ocupa a segunda posição, com taxas de 20,72/100 mil e 19,49/100 mil, respectivamente, e é o terceiro mais incidente na região Sudeste (11,3/100 mil) e quarto na Sul (15,17/100 mil). Quanto à mortalidade, é também na região Norte que se evidenciam as maiores taxas do país, sendo a única com nítida tendência temporal de crescimento (figura 1). Em 2013, a taxa padronizada pela população mundial foi de 11,51 mortes por 100.000 mulheres, representando a primeira causa de óbito por câncer feminino nesta região. Nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, onde este câncer representou a terceira causa, as taxas de mortalidade foram de 5,83/100 mil e 5,63/100 mil. As regiões Sul e Sudeste tiveram as menores taxas (4,39/100 mil e 3,59/100 mil) representando a sexta colocação entre os óbitos por câncer em mulheres. (INCA, 2018b).


Figura 1. Taxa de mortalidade ajustada* pela população mundial por câncer do colo do útero. Regiões. Brasil, 1983 a 2013 (INCA, 2018b)

No Estado do Pará, para 2016/2017 foram estimados 820 casos novos de câncer correspondendo a 20,52 casos de câncer do colo do útero por 100 mil mulheres. Na capital são esperados 260 casos novos correspondendo a uma taxa de incidência de 33,24 casos novos por 100 mil mulheres. Em 2013, a taxa bruta de mortalidade em mulheres no e Estado do Pará foi de 6,84 e na capital foi de 10,22. (PONTES, 2016)

POLÍTICA DE ATENÇÃO A SAÚDE

Em 1998, surgiu o Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero (Viva Mulher) e, em 2000, as primeiras iniciativas para o controle do câncer de mama, consolidadas com as diretrizes técnicas nesta área (BRASIL, 2004a). Outras ações como a ampliação dos registros de câncer e a expansão da assistência oncológica, através dos Centros de Alta Complexidade, foram implementadas nos últimos 10 anos (BRASIL, 2007a). Este esforço para consolidar ações nacionais de controle do câncer culminou, no final de 2005, com o lançamento da Portaria 2439/GM (BRASIL, 2005b) que estabeleceu a Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO). De forma inovadora na abordagem integrada de tratar a questão do câncer, esta Política estabeleceu diretrizes para o controle do câncer no Brasil desde a promoção da saúde até os cuidados paliativos. A Portaria nº 2439 do Ministério da Saúde propõe e orienta a organização da Rede de Atenção Oncológica nos Estados, uma estratégia de articulação institucional voltada para superar a fragmentação das ações e garantir maior efetividade e eficiência no controle do câncer. Ela prevê o conjunto de ações necessárias para a atenção integral ao câncer: “Promoção, Prevenção, Diagnóstico, Tratamento, Reabilitação e Cuidados Paliativos, a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão” (BRASIL, 2005b, p.1).

A estratégia de rastreamento adotada no Brasil baseia-se na oferta do exame de papanicolaou para as mulheres na faixa etária de 25 a 59 anos, considerada a de maior risco. A recomendação é que todas as mulheres com vida sexual ativa, especialmente na faixa indicada, façam tal exame com a periodicidade de três anos, após dois resultados normais consecutivos, com intervalos de um ano (BRASIL, 2003). No Brasil, ainda é baixa a cobertura do rastreamento. A oferta de exames de papanicolaou para uma cobertura de 80% da população-alvo pode ser estimada pela razão entre exames citopatológicos nesta população e número total de mulheres desta faixa etária. Espera-se que esta razão seja de no mínimo 0,3 exames/mulher ano.  A razão encontrada para o Brasil em 2005, sem excluir a população coberta pela Saúde Suplementar, foi de 0,17 exames/mulher ano. Até o momento, nenhum estado apresentou este patamar mínimo de oferta. (Parada, 2008)

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REFERÊNCIAS

BARROS, A. L. de S. et al. Citopatologia Ginecológica. Caderno de referência 1, Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: CEPESC, 2012.

INCA - Instituto Nacional do Câncer. Colo do Útero. Disponível em: <http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/colo_utero/definicao >. Acesso em: 25 jan. 2018a.

INCA - Instituto Nacional do Câncer. Controle do Câncer de Colo do Útero.  Disponível em: 
<http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_nacional_controle_cancer_colo_utero/conceito_magnitude >. Acesso em: 25 jan. 2018b.

INCA - Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância – Conprev. Falando sobre câncer do colo do útero. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde/INCA, 2002.

KHALBUSS, W. E.; Pantanowitz, L.; e Parwani, A. V. Digital Imaging in Cytopathogy. 2011. Pathology Research International. V. 2, N. 22. P. 73-74. 2011.

MIRANDA, G. H. B. Método para Processamento e Análise Computacional de Imagens Histopatológicas Visando Apoiar o Diagnóstico de Câncer de Colo do Útero. 2011. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

NOVAES, M. A. et al. A Telessaúde na Estratégia Saúde da Família em Pernambuco: resultados e desafios. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA EM SAÚDE. Recife. 2010. Disponível em: < http://www.cbtms.org.br/congresso/trabalhos/052.pdf >. Acesso em: 25 jan. 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). National eHealth strategy toolkit. 2012. Disponível em: < http://www.itu.int/dms_pub/itu-d/opb/str/D-STR-E_HEALTH.05-2012-PDF-E.pdf >. Acesso em: 25 jan. 2018.

PIROPO, T. G. N.; e Amaral, Helena. O. S. Telessaúde, contexto e implicações no cenário baiano. Saúde Debate, Rio de Janeiro, V. 39. N. 104, P. 279-287, Jan-Mar. 2015.

PONTES, V. B. Estudo dos genótipos do HPV e fatores associados ao diagnostico do câncer do colo do útero em estádio inicial em mulheres atendidas na unidade de saúde de referencia oncológica do Estado do Pará. 2016. 128f. Tese de Doutorado – Universidade Federal do Pará, Rio de Janeiro, 2016.

PORTAL BRASIL. Incidência do câncer de colo do útero cai em dez anos: Atlas de Mortalidade. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/saude/2014/11/incidencia-do-cancer-de-colo-do-utero-cai-em-dez-anos >. Acesso em: 03 jul. 2015.

THRALL, M.; Pantanowitz, L.; e Khalbuss, W. Telecytology: Clinical Applications, current challenges, and future benefits. Journal of Pathology Informatics, V. 2, N. 51, 2011.

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